Tive este pensamento, um destes dias, quando li alguém dizer que - "O Despertar espiritual é uma viagem prazerosa e de felicidade pura!"-
Mas pela minha própria experiência, (nestes quase 7 anos de trabalho interior de Desenvolvimento Pessoal e Espiritual, Cura e Autoconhecimento), não posso concordar!
De referir, que o nosso despertar está relacionado com a percepção de cada um de nós em relação ao mundo que nos cerca.
A ideia do despertar espiritual foi difundida pelo psiquiatra Carl Jung, que descreveu esse processo individual como o “retorno ao self original”, o que significa um reencontro ou reconexão com a essência humana.
Desta forma, o despertar da consciência, como também é chamado, está relacionado com a compreensão de que “ascender a um estado superior de consciência” é um processo natural do ser humano.
Geralmente essa sensação de acordar para este outro lado da existência além da matéria, é desencadeado por uma situação de desconforto ou descontentamento.
O nosso processo de despertar, nem sempre é fácil!
Pelo contrário, é bastante doloroso e revelador.
Por mais recompensador que possa ser (e sem dúvida que o é), existem momentos de medo, tristeza e dúvida.
Pois nesta nova percepção de nós mesmos, vamos nos apercebendo de tanta coisa... Nomeadamente dos "erros" que cometemos pelo caminho, (atenção que sou grata por todos eles, sei que tiveram de acontecer para estar aqui hoje, agora a escrever-vos estas palavras).
Começamos a perceber que, muitas vezes, fizemos tudo mal, tudo ao contrário do que seria o correto ou mais indicado.
Nas relações que não deram certo, nos mesmos padrões de pessoas que atraímos, nas inseguranças, traumas de rejeição e medos que projetamos no outro.
Exigindo aquilo que achamos certo e merecedor.
Queremos receber, mas estaremos dispostos a dar?
Será que temos assim tanta moral para falar?
Foi neste raciocínio que o meu coração parou e suei de desespero...
Neste caso pessoal, foi assustador para mim perceber que na educação do meu filho, não fiz o que deveria ter feito.
Projetei nele as minhas inseguranças, traumas e crenças.
Quis protegê-lo do mundo, quis ocupar o espaço vazio deixado por um pai ausente e vivi em função dele, nestes últimos 22 anos.
O sentimento de culpa de o ter tirado de perto do pai, (quando eu mesma cresci com um pai ausente), mesmo sabendo que era uma questão de vida ou morte, sei hoje, os traumas que carrega também ele nesse sentido.
Doí, doí muito.
Tenho consciência, agora, que isso o tornou dependente de mim, a todos os níveis.
Mesmo sabendo que tudo fiz por amor, fica sempre aquela dúvida a pairar no ar.
Será que esse amor foi o suficiente?
Será que não deveria ter sido mais dura e intransigente?
O que me dá alento ao coração, é saber que fiz o melhor que podia e sabia.
Mas hoje, quando penso que fui mãe aos 23 anos, como podia eu estar preparada para educar uma criança, se nem eu própria sabia quem era?
Se só hoje aos 46 anos, tenho essas respostas?...
Quando despertamos e entendemos melhor a nossa história e os padrões que se repetem de geração em geração, tudo se torna claro e assustador na mesma medida. Arrependemo-nos do tempo perdido a alimentar o Ego.
Percebemos que fomos uma vida inteira, figurantes na nossa história.
Guiados pelas próprias crenças e traumas dos nossos progenitores que fizeram também eles o melhor que podiam e sabiam.
Despertamos para o facto de que andámos adormecidos e a viver em piloto automático e a carregar uma dor que não era a nossa.
Uma culpa que não nos pertence...
Não é fácil, muitas vezes, aceitar e não nos culparmos por tudo!
Requer muita maturidade, Autoconhecimento e inteligência Emocional, para superar esse grande desafio de aceitação.
Uma vida a culpar o mundo pelos nossos fracassos, quando hoje sabemos que tudo está em nós e não no outro.
Entendemos que o outro, seja ele uma pessoa, desafio ou situação, apenas nos convida a agir, a fazer novas escolhas e a deixar para trás aquilo que não faz mais sentido carregar para a frente...
Dá-nos o sinal de que precisamos mudar algo em nós...
Despertar não é uma jornada fácil, mas ninguém disse que a vida seria fácil.
Mas, certamente, vale muito a pena e não faria sentido ser de outra maneira.
Comments